Outra faceta da vida de estagiário é a de ser confrontado todos os dias com o chamado (no Porto, e por um muito competente professor de construção) “trabalho de broche”. Isto é, 99% do nosso tempo de trabalho é passado não a imaginar maravilhosas estruturas, espaços fascinantes e pormenores construtivos de revista, mas sim a corrigir desenhos e a paginar folhas (quando não a cortar e dobrá-las). Ou seja, trabalho de desenhador, em que a parte de “arquitecto” se resume a decifrar os “esquiços” do chefe (ou seja, gatafunhos em cima de folhas imprimidas) ou, pior ainda, a tentar fazer com que aquilo que funcionava perfeitamente no “esquiço” passe a funcionar também na realidade – do tipo apartamentos de 40 m2 com espaço suficiente para quarto, sala, cozinha e casa de banho utilizáveis, separados e com áreas decentes.
Mas o pior é quando se tem que usar desenhos começados por outras pessoas. No projecto que estou a fazer agora, os ficheiros iniciais tinham não menos de 107 (!) layers, linhas sobrepostas todas só um bocadinho tortas (o suficiente para chatear muito) e uma estrutura toda só um bocadinho não modular, i.e. nenhum pilar tinha a mesma distância do outro. Um caos. Acabámos por decidir fazer tudo do zero. Assim, aquilo que estou a tentar aprender nesta fase da vida é:
Gostava de apelar a todos os jovens (e velhos) explorados como eu para que contribuam aqui com ideias que nos deem tempo para produzir mais, e assim poder passar mais tempo no café, ou no aperitivo como aqui. A minha primeira lista:
2. reduzir ao mínimo o número de ficheiros. Ter uma só planta para cada piso, e usá-la como referência. No mesmo ficheiro, paginar os vários layouts desde o início para poupar tempo de impressão (isto só é possível com o Autocad, e por isso é que é o meu programa preferido). O rótulo e moldura devem fazer parte do layout, o resto são viewports nas várias escalas.
3. muito boa gente põe-se a fazer contas para ajustar a escala de impressão. (No Portoghesi havia tabelas enormes por todo o lado, que eu nunca percebi). Isso é uma perda de tempo e uma dor de cabeça – ou seja junta-se o inútil ao desagradável. Basta escrever, no Page Setup, 1000mm = 1 drawing units, quando se trabalha em metros, e depois em cada viewport escrever a escala do desenho: 1/200, 1/50, etc. Simples!
4. reduzir ao mínimo o número de blocos, e NUNCA usar blocos já feitos sem primeiro os explodir, limpar os layers e ajustá-los aos nossos (depois criam-se layers que não se sabe de onde vêm e que é impossível apagar).
5. Já agora, os nomes dos layers _EM MAIÚSCULA e com um underscore antes. A maiúscula ajuda a vê-los mais depressa, o underscore a pô-los todos juntos e ao início da lista quando se importa outro desenho (isto para os típicos ficheiros das câmaras municipais que vêm com milhares de layers)
6. Como dizia o Davide: “a pior coisa que se pode fazer é fazer a mesma coisa duas vezes”. Ter sempre uma pasta para os ficheiros desactualizados, e dar-lhes o nome com a data, do seguinte modo: [nome do ficheiro][ano][mês][dia]. Exemplo: PROJEXEC_050629. Deste modo os ficheiros ficam ordenados alfabeticamente, primeiro por tipo de desenho e depois por data (por isso o formato ano/mês/dia). Para modificações durante o mesmo dia, escrever A, B, C, e por aí adiante a seguir à data.
Ok, para já é tudo. Para a próxima ponho a lista de layers que usamos aqui (de qualquer maneira fui eu que a desenvolvi) e a maneira de organizar as pastas sem cair numa burocratização excessiva – ou como o excesso de organização leva a que se perca ainda mais tempo. Sugestões aceitam-se, como já ficou dito.
4 comentários:
Subscrevo e remeto mais uma série de pistas:
1: O melhor seria trabalhar logo desde início sobre um ficheiro template criado por nós. I.e. criamos um ficheiro a partir do nada onde vamos associar os layers que achamos que fazem sentido, criamos também os layouts (podem-se configurar folhas de rosto já de tamanhos diferentes ou para diferentes tipos de apresentação caderno A3, folhas A1 ou +) definimos o formato de textos, dimensões, limites, unidades, e depois basta gravar como template file na devida pasta de template do autocad. Assim a próxima vez que se faz "New" podemos optar por carregar esse modelo que já inclui todas as alterações que fizemos (layers, formatos, tudo).
2: Utilizar ficheiros STB em vez de CTB são sem dúvida mais práticos dado que as cores, espessuras, e tipo de linhas são controlados no próprio desenho podendo o mesmo ter (dentro do STB) vários estilos: suponhamos um estilo em que aparece tudo a preto e com linhas finas ou tudo com opção de cores mas ainda finas, ou personalizadas, etc. Assim não se tem andar à procura de ficheiros de plotagem que passam de computador para computador, se perdem no caminho e por vezes são substituídos por outros completamente diferentes mas com o mesmo nome.
3: NUNCA definir um ficheiro como "final" é uma pura ilusão depois aparece o final_01 ou o Final_janeiro a confusão é geral, mais vale a data e uma boa nomenclatura na descrição do projecto.
4: Depois de criada a MARAVILHOSA base de layers tornar proibida a criação de novos layers tais como layer_joana, ou layer_marco_2004(de facto isto deveria ser punido por lei).
grande Pedro, obrigado pela contribuiçao. O ponto 4 é especialmente va'lido, por aqui tambem se faz e acho que merecia no minimo decapitaçao instantanea! abraço
gay
Este é daqueles posts que é realmente uma ajuda para quem trablha num escritório de arquitectura!!! Penso que os patrões também deveriam lê-lo com atenção...
Infelizmente não posso dar grandes contributos, primeiro porque sou um nabo a desenhar no computador; segundo porque o meu escritório é um péssimo exemplo de organização (descasquei-me a rir quando vi o teu ponto nº3, Pedro. Lá o que mais há são ficheiros com sucessivas adições do tipo: "Casa|Exec|Final|Obra|Gajoamorarládentro|etcetc.");
terceiro porque já não sei se percebo menos de AutoCad ou de ArchiCad...
Curioso como estas "pequenas questões" abordadas aqui tomam tanto do nosso tempo nesta primeira fase da vida!
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